quarta-feira, 27 de setembro de 2017

MINHA CHATICE E FALTA DE EDUCAÇÃO ALHEIA



As situações que vou relatar abaixo são só mais uma ou duas que acontecem toda hora e com todo mundo por aí, nada demais mesmo, mas gostaria de compartilhar com vocês.

SITUAÇÃO #1

Semana passada fui ao cinema com a minha mãe e do nosso lado haviam três gurias, todas adultas, para assistir ao filme. Logo nos primeiros sustos (terror) todos da sala fizeram sons de susto, deram um ou outro gritinho mas, as gurias da nossa fileira, além das reações normais de susto, ficaram conversando sobre o filme.

Eu sou uma criatura muito chata (ah vá, serio?), chata mesmo, principalmente com barulhos, isso me irrita profundamente sempre. Mas ok, desconsiderei e continuei de olho na tela. A droga é que as três gurias passaram a não calar mais o raio da boca, pareciam adolescentes, dando risadinhas e falando alto. Isso ultrapassava a barreira do cochicho ou dos barulhos aceitáveis num ambiente onde se espera silêncio.

- Gurias, por favor, conversem depois do filme... (isso, pra mim, é educado)
- Mas a gente quase não tá falando!
- Mas estão atrapalhando...
- Vai tomar no cu!
- Até vou, mas fiquem quietas!
- NÃO VAMOS FICAR!

Nesse momento devo ter revirado os olhos até enxergar meu cérebro...



Ok, fazer o quê? Mãe e eu trocamos de lugar, fomos 5 ou 6 fileiras mais para baixo do que estávamos, conseguindo ver o restante do filme na paz do Senhor! 
Confesso que pensei em jogar meu refri na bolsa de uma delas, que estava bem do meu lado e aberta, mas não. Paola Bracho baixou, mas desencarnou logo!


Voltando à seriedade:
SITUAÇÃO #2

Neste instante em que escrevo, estou na biblioteca da universidade, lugar delicinha para que eu possa redigir um ou outro parágrafo do meu TCC e... eis que chegam 2 colegas de campus no PC da minha frente, na mesma mesa. 

Elas começam seus estudos meio barulhentas, livros pesados na mesa, diálogos sobre o trabalho, e por aí vai. Sempre me irrito nos primeiros barulhos de qualquer pessoa, mas ao mesmo tempo, exercito minha paciência de esperar a pessoa se dar conta que está num ambiente de silêncio e aguardo ela ficar quieta novamente. 

Não foi o que aconteceu. 

Elas se empolgaram e foram falando cada vez mais sobre o trabalho e daí me dispersei de tudo...isso sem contar que tenho TDAH, perco a atenção com qualquer estímulo extra.

- Oi gurias! Vocês podem pedir uma sala de grupos, se quiserem. Com 2 pessoas já é possível pegar uma sala e eles também emprestam laptops.
 - Ah, obrigada!

Pedi com a mesma educação que eu acredito ter falado para as gurias do cinema, elas me olharam e sorriram ao agradecer. Elas não foram pra sala de grupos e continuam aqui na minha frente, sentadas e continuando o seu trabalho, só que em silêncio! Trataram de cochichar bem baixinho e só o necessário.

Estou falando isso pra vocês porque eu acredito muito na educação, nos direitos e nos deveres de cada pessoa na sociedade. Sei que é chato pedir silêncio, aliás, é chato pedir qualquer coisa para as pessoas que surta como retaliação, geralmente a pessoa que pede é vista como chata, cricri, irritante e qualquer outra coisa, mas, não acho que devemos aceitar tudo o que é errado, por menor que seja, apenas para não parecer chato perante os outros.

Eu mesma já estou acostumada, sempre sou “a chata” de qualquer grupo. Vai ver meu superego é um tanto rígido nesse sentido, mas eu ajo assim e gosto de ser corrigida quando extrapolo em alguma atitude, então, creio que seja inerente a mim agir assim quando julgo necessário. O resto, é vida que segue.

Apesar de tudo, fiquei feliz de ver uma atitude diferente das colegas de faculdade, elas poderiam tranquilamente se encher de razão e continuar a fazer o barulho que bem entendessem, mas não! Foram educadas, perceberam seu incômodo e se ajustaram ao meio, provavelmente não por mim, mas por educação e empatia, coisa que aprendemos lá na infância, mas primeiras regras da vida em sociedade. Pelo menos é isso que a gente espera que seja ensinado às crianças, pelos seus pais, mães e cuidadores.

Que bom que passei por estas duas situações distintas, é importante a gente se colocar em xeque de vez em quando, perguntar à si mesmo se tal atitude deve ser mantida ou extinta e, nesse caso, para mim, manterei minhas atitudes da mesma forma. Seguirei sendo a chata que solicita silêncio em bibliotecas e cinemas quando necessário, pede nota fiscal nas lojas, lê contratos e suas letrinhas miúdas, pergunta quando está em dúvida, mesmo que pareça idiota, pede pros caras fecharem as pernas no banco do coletivo e com toda a situação onde me sentir desrespeitada ou invadida. Mas, sempre com educação!

Acho que era isso por hoje!

Beijos de luz!


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terça-feira, 4 de julho de 2017

A APOSENTADORIA DO JALECO



Depois de tanto tempo longe desse blog, nada mais justo que falar um pouco sobre a minha segunda experiência de estágio em Psicologia Clínica, já que foi com isso que me ocupei durante esses seis meses. 

Obviamente não é nada demais mas, como escrever é um bom canal de escape para as minhas angústias, prefiro compartilhar por aqui!

No do curso de psicologia temos seis semestres obrigatórios de práticas e estágios onde o aluno escolhe uma área específica. Temos a opção de escolher entre a área organizacional, clínica, escolar ou comunitária. Eu escolhi fazer os meus na área clínica onde o profissional, geralmente, realiza os atendimentos em consultório.


Durante a minha graduação pude conhecer em teoria o trabalho do psicólogo hospitalar, que faz parte da área clínica da psicologia, e amadureci a ideia de realizar um dos estágios obrigatórios num hospital geral. Eu me imaginava na internação adulta de casos críticos, em alguma área onde o meu trabalho pudesse trazer benefício para os pacientes e seus familiares. 
Entendendo que passar por um adoecimento é momento muito importante da vida, via o trabalho da psicologia como essencial dentro da equipe multidisciplinar e acreditava que trabalhar nesse meio me traria satisfação profissional. 

Passei na seleção de estágio do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) em fevereiro desse ano para a área da Hematologia e Transplante de Células-Tronco Hematopoéticas e também no Programa de Fibrose Cística do hospital. Um lugar incrível para o aprendizado acadêmico, onde o trabalho é intenso, mas é principalmente um local incrível para o aprendizado como ser-humano.
É muito clichê falar que ter saúde é uma dádiva, mas realmente é. Ter saúde não tem preço, gente! E quando falo em saúde cogito sempre a saúde mental concomitantemente com a saúde física. 

Entrei lá sem saber NADA sobre hematologia ou fibrose cística e confesso que foi desafiador estudar sobre isso, já que para cada doença haviam muitas possibilidades de tratamento e prognóstico. 
Planejei estagiar no hospital por onze meses, até a minha formatura (12/01/2018), só que em apenas três meses de estágio eu senti que a minha saúde emocional não estava bem.

Tive dificuldades teóricas, práticas e muita resistência com as burocracias institucionais, fato que acredito ter sido a força motriz para a decisão de sair de lá. E assim foi. 
Foi bem difícil me dar conta disso e acabei sofrendo sozinha por algum tempo, até conseguir expor com minha supervisora e amigas/colegas de estágio. Também foi difícil aceitar o que estava acontecendo comigo, pois, onde já se viu? 
Eu queria tanto esse estágio, manejei minha vida e meu orçamento pra dar conta de tudo e agora nem motivação eu tenho pra trabalhar lá! 
Como pode?

É, infelizmente pode sim. 
Essas coisas acontecem e, se há algum sofrimento pra gente no caminhar de uma trajetória, esse caminho deve ser interrompido.
Na nossa vida nos deparamos com momentos assim, de decisões marcadas pela escolha entre manter algo em prol de um ideal ou abdicar esse desejo em prol da manutenção do nosso bem-estar e satisfação.
Nunca é fácil escolher e muitas vezes é uma escolha inflexível, que não nos dá a menor chance de saber como será o futuro depois dela e que nos prende nas correntes da nossa própria liberdade de decisão.

Antes de qualquer atitude tive que me conhecer melhor, avaliar não apenas as escolhas que eu deveria fazer, mas reavaliar o que eu ACHAVA que queria para o meu futuro. Nessa avaliação percebi que trabalhar num hospital não era o que eu realmente queria. Talvez esse interesse fosse apenas o resquício de um sonho de adolescência, aquele sonho de ser médica, sonho esse que nunca realizei e talvez pudesse ser substituído pela atuação dentro da psicologia hospitalar. 
Só que não!

Resolvi dar fim ao período que escolhi como experiência clínica e aposentar o jaleco branco recém comprado. Foi bem frustrante me dar conta de que essa idealização era algo totalmente criado por mim e que talvez o mínimo de romantismo que me habita tinha sido canalizado para essa profissão. 
Ninguém disse que ia ser fácil e, perceber nossas próprias dificuldades e limites é algo que nem sempre conseguimos nos dar conta, exige auto-conhecimento e resiliência.


Essa área de conhecimento acabou me ensinando questões muito maiores do que as acadêmicas. Só eu sei o quão sério e respeitoso foi o trabalho que pude fazer com os pacientes e seus familiares nesse curto período de tempo e é essa experiência maravilhosa que guardo do local. Guardo também as pessoas que encontrei nessa caminhada, as boas e as não tão boas assim, mas todas que de alguma forma me cativaram, e essas experiências humanas e efêmeras que acredito que marcam a nossa história.

Sou grata pela oportunidade que tive e desejo muita saúde e prosperidade aos que ficam, pois, quem trabalha com a psicologia hospitalar merece muito o nosso respeito e admiração. 

Daqui pra frente sigo meu caminho rumo à formatura em outro local maravilhoso, que eu já estava realizando concomitantemente com o estágio no HCPA, local este que me sinto completamente identificada e acolhida. Estes fatos que me dão força e coragem para seguir esse caminho intenso que é cursar psicologia.

Grande abraço!